Você já pensou nas consequências que as mudanças climáticas estão trazendo para a vitivinicultura ao redor do mundo?
Se você é um amante do vinho, prepare-se para um panorama que vai te surpreender!
Até pouco tempo atrás, ninguém imaginava que estudar mudanças climáticas seria essencial para o universo do vinho. Mas, cá estamos! O clima está mudando e precisamos agir, seja prevenindo, seja mitigando os impactos. Secas, chuvas intensas, geadas tardias e até inundações têm sido cada vez mais frequentes, algo que não víamos há algumas décadas.
De acordo com o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), a temperatura média da superfície da Terra pode subir até 4°C nos próximos 80 anos, se nada for feito para conter as mudanças climáticas. Para você ter uma ideia, entre 1900 e 2020, a temperatura aumentou "apenas" 1,1°C. Ou seja, estamos falando de um aumento quatro vezes maior em menos tempo. Assustador, né?
E quanto ao vinho, o impacto já é evidente: maior concentração de açúcares nas uvas, regiões já quentes ficando ainda mais quentes, uvas sobremaduras, vinhos com maior teor alcoólico, pH elevado e mais suscetíveis a contaminações. Por outro lado, regiões mais frias, que antes não eram ideais para o cultivo de uvas, agora estão se destacando, como o Sul da Inglaterra, famoso por seus espumantes.
Os próximos anos vão exigir bastante estudo e inovação: castas mais resistentes à seca, porta-enxertos alternativos, novas regiões de cultivo, reutilização de água tratada e práticas sustentáveis em todas as etapas, da vinha até a garrafa.
A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) está ligada nesse movimento e criou, em 2021, um grupo de trabalho sobre Desenvolvimento Sustentável e Mudanças Climáticas para estudar a fundo o tema. Aqui estão algumas das recomendações que vêm sendo desenvolvidas:
- Estratégias de adaptação do setor vitivinícola às mudanças climáticas - Resiliência;
- Definição e recomendações da OIV para Agroecologia no setor vitivinícola;
- Viticultura de montanha e encostas íngremes;
- Conservação da natureza e da biodiversidade no setor vitivinícola;
- Importância da biodiversidade microbiana no contexto de viticultura sustentável;
- Sustentabilidade e ecodesign na adega;
- Revisão de metodologias para cálculo da pegada hídrica em vinhas;
- Recomendações metodológicas para contabilização do balanço de gases de efeito estufa no setor vitivinícola;
- Viticultura em zonas áridas;
- Práticas biodinâmicas: identificação e aplicação na viticultura.
É um trabalho enorme, e exige que a gente coloque em prática o máximo de medidas possíveis para reduzir o impacto global!
Deixo uma frase para reflexão, de um grande especialista no tema:
“A evidência científica é inequívoca: as mudanças climáticas são uma ameaça ao bem estar do ser humano e à saúde do planeta. Qualquer atraso em uma ação climática conjunta provocará uma perda na breve e rápida janela aberta para garantir um futuro habitável.” Hans-Otto Pörtner
Fernanda Spinelli
Sommelier Internacional FISAR
WSET 3 em Vinhos
Delegada Científica Brasileira na OIV
Foto: Javier Allegue Barros | Unsplash